Tia Ju - Adultização: um risco real para nossas crianças

A adultização não é um fenômeno novo. Nos anos 1990, a televisão já promovia conteúdos que fomentavam a erotização precoce. Hoje, porém, o cenário se agravou: as redes sociais potencializam e monetizam esse tipo de conteúdo, dando visibilidade e alcance a comportamentos que distorcem a infância. Redes sociais não são álbuns de fotos de família, são ambientes de negócios.

Recentemente, um influenciador fez um experimento criando um perfil falso e interagindo com fotos para ver o que o algoritmo entregaria. O resultado foi alarmante: não há régua de medição para impedir a entrega de conteúdos que caracterizam adultização. Outro caso chocante veio de um influenciador da Paraíba, que promove um “reality show” entre adolescentes, com beijos e danças eróticas. Essas práticas, além de normalizarem a erotização precoce, geram lucro para seus produtores.

A adultização não se limita à conotação sexual. Crianças e adolescentes também são expostos a papéis e temas adultos, como o mercado financeiro ou estereótipos de comportamento, sem estarem emocionalmente preparados. Isso afeta a forma como se veem e como se mostram, impactando a saúde mental e abrindo espaço para redes de pedofilia.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 revela números alarmantes: 78% dos estupros registrados no país tiveram como vítimas adolescentes de até 17 anos, e 61% atingiram menores de 14 anos. O uso da internet e das redes sociais tem impacto direto nesse cenário, ampliando a vulnerabilidade e facilitando o acesso de agressores a potenciais vítimas.

Há um uso seguro e saudável das redes para crianças e adolescentes? Essa é uma discussão que a sociedade precisa enfrentar. A Austrália, por exemplo, baniu por lei o acesso de menores às redes sociais. No Brasil, defendo medidas como a obrigatoriedade de que perfis de menores sejam vinculados a um responsável legal, para que haja um adulto formalmente responsável pelo conteúdo e interações.

Como deputada, apresentei o Projeto de Lei nº 895-A/2023, que exigia alvará judicial para produções artísticas, publicitárias ou de entretenimento com crianças e adolescentes nas redes. A proposta buscava prevenir abusos e exploração, inclusive por parte dos próprios pais. Infelizmente, o projeto foi vetado.

Ainda assim, sigo acreditando que proteger a infância é um dever coletivo. É papel dos legislativos estaduais, da Câmara Federal, das famílias e da sociedade garantir que nossas crianças possam viver plenamente a infância, livres da exploração e da pressão de se tornarem adultos antes do tempo.
Tia Ju é Deputada Estadual (REP-RJ), 2° Vice-Presidente da ALERJ e Presidente da FECRIANÇA (Frente Interestadual de Mobilização Nacional Pró-Criança e Adolescente)


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Fonte: https://odia.ig.com.br/opiniao/2025/08/7113362-tia-ju-adultizacao-um-risco-real-para-nossas-criancas.html

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